Passamos cerca de 90% do nosso tempo em ambientes construídos, e isso mostra como a arquitetura pode profundamente afetar nossas emoções. Ela tem o poder de inspirar e transformar nossa existência do cotidiano.
Essa arte tem como base a tríade vitruviana - firmitas (técnica e material), utilitas (função e uso) e venustas (estética e beleza). A arquitetura emocional busca ir além e considerar também aspectos humanos, tais como a experiência sensorial e emocional do espaço.

Pavilhão Dançante. Arquitetura: Estúdio Guto Requena. Arquitetura interativa temporária, criada para as Olimpíadas de 2016. Por meio de sensores a pista de dança captava a música e os movimentos das pessoas, e sincronizava-os com a pele do edifício, que se movimentava de acordo com aqueles usuários.
O arquiteto deve assumir o ponto de vista do usuário, entendendo como as pessoas experimentam e interagem com o ambiente. Nesse processo é essencial envolver os usuários finais através de atividades como escuta ativa, observação cuidadosa do ambiente, entrevistas, pesquisas, workshops e estudos do local.
Um grande exemplo de arquitetura são as obras da arquiteta ítalo-brasileira Lina Bo Bardi. Com uma visão humanista e inclusiva, Lina colocava as pessoas no centro de seus projetos. Valorizava a cultura popular brasileira, as tradições locais e o uso de elementos naturais. Acreditava que a arquitetura é uma ferramenta de transformação da sociedade e buscava refletir a identidade cultural do povo em suas obras.

SESC Pompéia. Arquitetura: Lina Bo Bardi. O projeto foi desenvolvimento com a participação e valorização do usuário final. Um espaço aberto e flexível, permitindo que as pessoas se apropriem dele e o transformem de acordo com suas necessidades. Lina Bo Bardi valorizou a presença de elementos naturais, como a luz do sol e a vegetação, como forma de criar uma atmosfera acolhedora e agradável.
A fenomenologia, por sua vez, é um campo de estudo que se concentra na experiência direta e imediata da consciência humana. No campo da arquitetura busca entender como os espaços são percebidos por meio de nossas percepções sensoriais, como luz, som, textura, cor, cheiro e como esses elementos afetam a experiência do usuário.
Esse estudo considera a consciência subjetiva no espaço, referindo-se à forma como percebemos e experimentamos os espaços a nossa volta. É uma experiência subjetiva, ou seja, é única para cada indivíduo, e é influenciada por fatores como nossas emoções, memórias e experiências anteriores. De acordo com o arquiteto Steven Holl: A arquitetura é uma arte poderosa que pode despertar todos os sentidos e complexidades da percepção.

Storefront for Art and Architecture. Arquitetura: Steven Holl. Utilizando uma série de painéis articulados dissolve o espaço interno da galeria que se expande para a calçada. Rompendo o limite simbólico entre arte e cidade.
Peter Zumthor, renomado arquiteto suíço, enfatiza a importância da percepção sensorial imediata na experiência arquitetônica e como as emoções podem desempenhar um papel crucial em nossa avaliação inicial de um espaço ou ambiente construído. No seu livro Atmospheres: Architectural Environments - Surrounding Objects (2006) afirma: “Somos capazes de apreciar imediatamente uma resposta emocional espontânea, de rejeitar coisas num piscar de olhos”.

Termas de Vals. Arquitetura: Peter Zumthor. Spa projetado para oferecer uma completa experiência sensorial. Construído a partir de camadas de quartizito de Vals, o projeto explora sensações através da escala, do contraste de luz e sombra, textura, e do próprio elemento água, como temperatura, estado e odores.
Considerar todos os aspectos que envolvem a arquitetura, incluindo a consciência subjetiva na percepção espacial, resulta na criação de espaços significativos e emocionais, capazes de contar histórias e despertar emoções. Esses espaços se tornam narrativas espaciais, poderosas ferramentas de comunicação e conexão entre pessoas.
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